MAROCAS

Novembro 22 2005
ZE-SOCRATES-EUROPA.jpg
37 cêntimos por dia foi o aumento do Salário Mínimo Nacional, que passa para para 385,90 euros (77.366$00) 3% para este ano.

E Sócrates ainda diz:

“O aumento não pode ser superior para não pôr em causa alguns sectores da nossa economia, que ainda têm uma larga percentagem de trabalhadores a ganhar o salário mínimo, expondo a uma concorrência internacional, diminuindo a sua competitividade”.

Ó Engenheiro para dar uns miseros 37 centimos (74 escudos) a quem ganha 300 e tal euros, não vale a pena estar com tanta conversa.

Quantos centimos diários é que vai levar o Presidente do Banco de Portugal de aumento, ou alguns gestores das Empresas poublicas?

Não vale a pena estar com lágrimas de corcodilo para quem só vai ter 37 centimos por dia de aumento. E aproveito para lhe lembrar que alguns dos medicamentos genéricos aqui custa só o dobro que em Espanha, e quem os consome principalmente são alguns idosos e os que vão levar os tais 37 centimos diários

E já agora lembro que o pão teve um aumento de 10% só este ano, segundo a imprensa, e é o que os pobres mais consomem!

Talves não fosse má ideia de começar acabar com estas poucas vergonhas que por ai vão !!!
publicado por Fernando Ramos às 22:47

Novembro 09 2005
pinto_da_costa-moldura.jpg
PINTO DA COSTA - ALGUNS INQUÉRITOS JÁ FORAM ARQUIVADINHOS... Segundo o Jornal Exopresso de hoje

Pinto da Costa tinha "excesso de Liquidez" Jornal Expresso de 5.11.2005

Ex-mulher do presidente do FC Porto refere dois cofres com grandes quantias em dinheiro incluindo moeda estrangeira

PINTO da Costa tinha em casa «grandes quantias de dinheiro em numerário, nomeadamente moeda estrangeira». Estas quantias estavam guardadas em dois cofres. Além do dinheiro, existiam ainda dezenas de relógios de elevado valor. Estas revelações foram feitas por Filomena Pinto da Costa, no âmbito de um inquérito-crime onde se investigaram factos relacionados com a Câmara do Porto, o FCP e grupos económicos do Norte. »

Mas porquê é que não se levanta o sigilo bancário a este senhor?
publicado por Fernando Ramos às 21:06

Novembro 03 2005
(recebido por e-mail)

Manuel-25.jpg
Que fizeram dos nossos sonhos, Manuel ?

Estou no meu cantinho a escrever as minhas coisas, longe da ribalta. Mas agora tem que ser.

Meu nome é António Mesquita Brehm, tenho 78 anos, e escrevo este depoimento como simples cidadão português e não como Vitório Káli, escritor.

As traições não são apenas de agora e transformam sempre o destino dos homens.

Em 1962 encontrei-me, pela primeira vez, com Manuel Alegre em Luanda. Sacámos o santo e a senha da algibeira para nos identificarmos e, a partir daquele breve instante, metemo-nos numa das maiores aventuras das nossas vidas. Combinámos formar um único grupo com armas na mão e derrubar o regime de Salazar.

A guerra colonial havia começado tempo antes, centenas de colonos portugueses tinham sido cruelmente abatidos nas matas do norte de Angola e alguns milhares de negros sofriam agora perseguições e morte nos musseques de Luanda. A vergastada emocional paralisou os nervos da população. Mas toda a gente lúcida sabia que se tornara imperioso estancar aquele martírio inútil dos nossos povos.

Se tomássemos o poder em Luanda e controlássemos Angola, faríamos um ultimato a Salazar e encetaríamos negociações com os movimentos de libertação para discutirmos as condições da independência do território protegendo não só os direitos naturais dos angolanos como ainda de todos os portugueses que ali viviam.

Foi então, às vésperas do golpe militar, que um oficial nosso compatriota nos traiu (ele e alguns mais) e nos denunciou à PIDE acusando-nos de estarmos a vender Angola às forças de Satanás. Toda a cabeça do grupo revolucionário foi presa e encurralada na Prisão de São Paulo de Luanda. Nas celas pegadas às do Luandino Vieira, do António Jacinto e do António Cardoso, cujos nomes ficaram bem gravados na literatura angolana.

Hoje, na proximidade de grandes decisões para o nosso país, afinal também o mesmo acontece. A traição tem sempre um preço.

Estes factos foram determinantes para a evolução da guerra de Angola. E ela continuou por mais onze anos provocando milhares de mortos e estropiados ao exército português e genocídios aterradores de populações angolanas, a fuga em massa dos nossos colonos que lá deixaram os seus haveres, tudo aquilo que era afinal o resultado de muitos anos de trabalho e esperanças. E a destruição de toda uma economia regional que deveria sustentar o futuro de um dos países africanos mais poderosos, e possibilitando o assalto das elites angolanas e dos oportunistas desta lusa terra ao domínio dos grandes negócios e dos empregos milionários enquanto o povo humilhado sofria a fome, a doença, o estropiamento e o abandono.

Pois isto aconteceu muitos anos antes da revolução do 25 de Abril. E teria certamente apontado novo caminho ao futuro de Portugal e de todas as nossas antigas colónias africanas. Os poderes oficiais, e aquela cáfila que deles se aproveita, fizeram uma lavagem da História. Nunca falaram sobre o golpe militar de 1963 em Luanda. Mas o nosso processo policial está fechado a sete chaves, desde há muito, nos Arquivos da PIDE e um dia será detalhadamente revelado para espanto de muita gente. Também eu publicarei mais tarde meu livro de memórias sobre este período da nossa vida colectiva.

Neste momento da candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República, é meu dever recordar a nossa saga de Angola, a figura lendária do Silva Araújo com o seu esquadrão de 500 guerreiros africanos, o major José Ervedosa que, no comando dos aviões de bombardeamento das bases da Ota e do Montijo da Força Aérea Portuguesa lançou as bombas de napalm nos sítios desertos da região de Malange para desrespeitar as ordens de massacrar os milhares de trabalhadores em greve da Baixa do Cassange, o Felisberto Lemos, gerente da Livraria Lello de Luanda, onde se organizaram também muitos encontros clandestinos, o comandante Jeremias Tschiluango dos guerrilheiros do Norte que logo se dispôs a levantar esquemas logísticos para nos ajudar a ocupar Luanda, o chefe Matifoge que roubou armas e munições nos quartéis portugueses.

E aqueles homens como o Vítor Barros, deputado da nossa Assembleia Nacional, que no Huambo nos abriu as portas dos gabinetes dos chefes militares das tropas da cidade, e o engenheiro Fernando Falcão que no Lobito havia preparado o levantamento da sua população contra o regime de Salazar.

E tantos outros oficiais e praças do nosso exército colonial e incógnitos civis que, desde a primeira hora, se integraram no movimento para a defesa da Liberdade.

E também muitos poetas e intelectuais (que palavra horrível) como o Alexandre Dáskalos, o Cochat Osório, o Adolfo Maria, o Henrique Abranches, o Mário António, o Aires de Almeida Santos, o Neves e Sousa, e os nossos camaradas do 1º Encontro de Escritores de Angola realizado no Lubango em Janeiro de 1963. Porque as revoluções também se preparam com poetas, escritores e artistas.

Mas a hora chegara.

E o nosso Manuel Alegre, o nosso grande poeta da gesta portuguesa e da nossa Resistência, foi também então um dos grandes líderes desta revolta armada. E muito deverá contar aos portugueses sobre aquelas horas transcendentes.

Por fim desejo contar dois episódios acerca dele nesse período que nunca esqueci. O primeiro aconteceu no pátio da nossa prisão na hora do recreio quando, de repente, recebemos a visita de São José Lopes, Director Geral da PIDE, que vinha "inspeccionar" o nosso comportamento. Perguntou diversas futilidades sobre a prisão, estacou diante do meu companheiro e disparou: – "Diga lá, senhor Alferes, se esta situação estivesse invertida e você me tivesse preso, o que faria?". Manuel Alegre não vacilou um segundo e respondeu-lhe com firmeza: – "Olhe, senhor Director, mandava-o prender sem hesitações para ser julgado e depois condenado, sem dúvida". São José Lopes, o senhor todo-poderoso da polícia secreta em Angola, ficou perplexo. Não esperava por tal desafio, esteve algum tempo calado e depois sentenciou: – "O senhor Alferes é um homem de coragem". Qual seria o preso, naquelas condições, que o enfrentaria com tal dignidade?

O segundo passou-se em minha casa quando fomos libertados, muitos angolanos nos vieram saudar. Recordo que nessa noite de alegria os funcionários negros da Texaco (a estação de serviço ao lado) nos bateram à porta para nos entregar duas galinhas vivas e era essa a singela homenagem de agradecimento pela luta que sempre travámos junto deles. Foi um bonito ritual de que só, muitos anos depois, entendi no seu verdadeiro significado. Madalena, minha fiel lavadeira da Vila Alice, a pequena Lídia que se esgueirava pelos becos com nossas mensagens, Simão, o carpinteiro do Rangel, que dirigia o grupo dos batedores do bairro e alguns outros, lá estavam presentes à nossa espera, as bocas rasgadas no melhor sorriso que vi até hoje. Manuel Alegre ficou com as lágrimas a brilhar de emoção quando eles o abraçaram. – "Somos todos irmãos", lhes disse. "Um dia os nossos povos caminharão sempre juntos".

Então, senhores historiadores, que é feito dos vossos conhecimentos e da vossa memória?

A juventude portuguesa terá que saber da verdade histórica que, nos subterrâneos do tempo, fundamentou o nascimento das nações africanas que falam a nossa língua e nos deu então a liberdade. A liberdade que ainda temos.

Que fizeram dos nossos sonhos, Manuel?

Decorridos tantos anos, o que vemos?

A nossa revolta de 63 foi enterrada, o 25 de Abril morreu há muito, os velhos conceitos políticos transfiguraram-se do dia para a noite (não apenas simbolicamente), já não existem esquerda e direita mas uma nova linha ética que marca plenamente dois territórios, o mundo dos homens que defendem o povo, os humildes e os pobres, o imperativo categórico da verdade, a igualdade de oportunidades e, do outro lado, aqueles que se defendem a si próprios, as suas fortunas, os seus privilégios, as suas leis ultrapassadas na justiça, na educação, na saúde, na administração, provocando a miséria do pão-nosso de cada dia, a insegurança nas ruas, a destruição das nossas florestas e os incêndios programados, a corrupção nos serviços, os compadrios dos partidos políticos (em que todos se ajeitam), as incompetências dos serviços públicos, os discursos vazios de dirigentes partidários, o negocismo que manda construir estádios megalómanos em detrimento da construção de novos hospitais, o absurdo despesismo com os nossos soldados no estrangeiro, a aquisição de material de guerra que ninguém sabe contra quem, enfim, o crescente divórcio entre o povo e o Estado.

A lista não tem fim.

Compete ao futuro Presidente da República corrigir estes desmandos e vigiar o comportamento ético do Estado. Sim, Ético. E estamos em cima do fio da navalha:

Se o povo português não compreender que estas eleições são as mais importantes em Portugal depois do 25 de Abril e não souber votar com a consciência de que é o futuro da nossa juventude (o futuro do país) que está em causa, então jogará a pátria nos braços e nas garras de soberanias alheias.

Basta.

Que não se fale tanto em democracia a torto e a direito mas que a pratiquem de coração aberto.

Não são os partidos que elegem o Presidente.

O povo é que deve dar a sua Voz.

Esta é a mensagem que te deixo nesta hora dramática da vida dos portugueses. A nação procura um homem sério, corajoso, leal, abnegado, generoso e honrado. Com a dignidade das íntimas convicções.

Avança, Manuel.

Publicado em:

www.manuelalegre.com

(Com a devida vénia ao António Mesquita Brehm)

O inimigo não passará
Porque Abril venceu
O povo sempre lutará
Por um Portugal que é seu
publicado por Fernando Ramos às 19:00

Novembro 01 2005
lisboa-1755-antes do terremoto.jpgLisboa antes do Terremoto de 1755

O terramoto de Lisboa aconteceu há 250 anos, foi no dia 1 de Novembro de 1755.

o abalo que se considera ter sido de 8,7 da escala de Ritcher e prolongadíssimo foi de 9 minutose foi decerto muito violento, ficou tudo destruido, Deus nos poupe de outra.

Carmo-ruinas desde 1755.jpg
O TERREMOTO DE 1755

Faz hoje, duzentos e cinquenta anos,
que este pequeno país foi arrasado
Foi quase todo pelos canos,
e um povo ficou infernizado
Portugal tremeu, a bom tremer
e ficou completamente destruído
Todos ficaram na miséria, e sem comer
e muito teve de ser reconstruído

O fogo queimou casas, e quase tudo,
e o mar, à cidade muito longe chegou
Nove minutos levaram o país ao fundo,
num tremor de terra, que tudo devastou
Grande desgraça teve Portugal,
que foi engolido pelas altas ondas do mar
Era um desastre de causa natural,
que um povo, a teve de suportar

Foi a um de Novembro, que tudo aconteceu,
onde Portugal inteiro ficou muito sofrido
O povo, esse nunca esmoreceu,
e fez um país novo, e bem reconstruído
Somos um povo forte e valente,
quando a desgraça nos bate à porta
Depois somos muito displicente,
ao pensarmos que ela está morta

E um novo país foi construído,
com o Marquês de Pombal à frente
Foi tudo muito bem sucedido,
que ainda hoje há uma construção decente
O povo ergueu uma obra bela e boa,
e fez-se uma maravilhosa cidade
Todos têm orgulho de Lisboa,
que é uma terra para a posteridade

Somos um país com uma linda história,
E temos de ser, mais amigos de nós
Levamos esta terra à nossa vitória,
em nome dos nossos queridos avós
Não deixemos morrer Portugal,
que tantos construíram com muita dor
É o nosso país, e não há outro igual
vamos todos dar-lhe o nosso profundo amor

de: fernando ramos - www.meuslivros.weblog.com.pt
1.11.2005

Lisboa-19.jpg
Um novo 1755 pode levar 2000 anos
A magnitude do sismo de 1755 já não oferece grande discussão. Os cientistas pensam que ela terá atingido o valor de 8,5 a 8,7 na Escala de Richter

Foram seis longos minutos. Ou nove. Nunca se saberá ao certo. Mas esses momentos, que à escala geológica são nada, mudaram Lisboa e repercutiram-se em toda a Europa, na filosofia, na arte e cultura da época. As réplicas chegaram até hoje, à ciência, que começa agora a desvendar as causas do maior sismo conhecido na Europa. Esta é a história de um mistério ainda sem solução definitiva, mas com algumas explicações provisórias, que não pára de surpreender (e espicaçar) os cientistas.

Analisados os documentos da época à luz da sismologia moderna, é claro para os geofísicos que o terramoto de Lisboa atingiu a magnitude de 8,5 ou 8,7 na Escala de Richter. "É um valor hoje consensual", explica Luís Matias, do Centro de Geofísica da Universidade de Lisboa e um dos investigadores que tem estudado a questão.

A unanimidade termina, porém, quando se chega às causas do sismo. Onde está localizada a sua fonte? O que aconteceu exactamente no fundo do mar, ao largo da costa portuguesa, naquela manhã do Dia de Finados? E se as entranhas da terra voltarem a revolver-se com aquela brutalidade, quando vai isso acontecer? Daqui a 200 ou 300 anos, ou apenas dentro de um ou dois milénios? Por entre todas as dúvidas, um quadro começa a ganhar forma. Uma das hipóteses cada vez mais fortes prende-se com o período de retorno de um cataclismo idêntico na capital portuguesa, que os cientistas julgam agora ser de dois mil anos.

Pensava-se até há pouco que 200 a 300 anos era o intervalo crítico para a ocorrência de um sismo daquela magnitude na região de Lisboa. Era uma visão mais ou menos empírica, apoiada nos registos históricos. "Lisboa foi sempre sujeita periodicamente, com intervalos de 300 anos, aproximadamente, a sismos fortes e há relatos disso", conta Luís Matias. "Mas, relacionar este intervalo de tempo com 1755 é um equívoco", nota o investigador. Por uma razão simples o terramoto de há 250 anos foi único na sua magnitude e a sua causa esteve no fundo do mar, ao largo da costa. Por outro lado, há várias fontes distintas, falhas no continente e também no fundo marinho, que de vez em quando fazem tremer a capital e outras regiões no território, como o Algarve, mas sem se atingirem magnitudes drásticas como a de há dois séculos e meio.

Descoberta. A melhor hipótese de que os cientistas dispunham até há pouco para localizar a possível da fonte do terramoto de 1755 era o Banco de Gorringe, a estrutura submarina mais "vistosa" a sudoeste da costa algarvia. Subindo quase a pique, de uma profundidade de cinco quilómetros até 30 metros abaixo da superfície do mar, aquele estrutura geológica, a cerca de 200 quilómetros a sudoeste do Cabo de S. Vicente (a 300 de Lisboa), era a candidata mais óbvia.

Apesar disso, nem todos os cientistas estavam convencidos da identidade do "culpado". E tinham um bom argumento a intensidade do sismo e a destruição em Lisboa não eram compatíveis com a enorme distância a que está o Banco de Gorringe da capital portuguesa. Os estudos da última década deram-lhes razão. Nos anos 90 do século XX, alguns acontecimentos relançaram a discussão, que está mais vigorosa do que nunca. A conferência internacional "250th Aniversary of de 1755 Earthquake" que a partir de hoje, e até sexta-feira, traz ao Centro Cultural de Belém dezenas de investigadores de vários países, e de diferentes especialidades - da tectónica à sismologia, engenharia sísmica e planeamento urbano - será disso montra única. E, quem sabe, até de algumas novidades.

Mas o que sucedeu no início da década passada que permitiu pensar a causa de 1755 de outra forma?

Um dos ovos de Colombo foi o estudo do tsunami gerado pelo terramoto, que nunca se tinha feito. Havia trabalhos no Japão sobre modelização de tsunamis ocorridos no século XIX, mas nunca se tinha tentado recuar tanto no passado, para um estudo semelhante.

Por sugestão de Mendes Victor, que durante anos liderou o grupo de geofísica da Universidade de Lisboa, a investigadora Maria Ana Baptista tomou nas mãos essa complexa tarefa (ver texto na pág. 4). E o resultado valeu o esforço.

Feitas as contas ao tsunami de 1755, simuladas as ondas, fluxos e refluxos e tempos de chegada à costa, percebia-se que a fonte do sismo dificilmente poderia ser Gorringe. Esse local devia estar mais próximo da costa portuguesa, a cerca de uma centena de quilómetros a sudoeste do Cabo de S. Vicente. Com esse estudo, publicado em 1996, Maria Ana Baptista colocou a discussão científica "num novo patamar", sublinha Luís Matias.

Longe daqui, um investigador italiano da Universidade de Bolonha, Nevio Zitellini, envolvido noutra pesquisa para determinar a localização exacta da zona de convergência entre as placas euroasiática e africana, realizou entretanto, em 1992, um perfil sísmico numa região situada a essa distância do Cabo de S.Vicente. E foi aí que deu com uma escarpa no fundo do oceano (uma falha activa com ruptura à superfície do leito marinho), com sinais de movimento recente à escala geológica algo como 200 anos. Absorvido no seu estudo sistemático, Zitellini levou vários anos a publicar a descoberta. Mas um dia, corria o ano de 1998, agarrou nos seus papéis e decidiu procurar o grupo de geofísica de Mendes Victor. Tinha lido o estudo de Maria Ana Baptista e queria mostrar a feliz coincidência entre a sua descoberta e a localização da fonte do terramoto sugerida pela análise do tsunami.

Por sugestão do italiano, aquela estrutura submarina acabou por ganhar o nome de Falha do Marquês de Pombal e, em 1999, Zitellini publicou a descoberta, propondo-a como origem provável do terramoto. Estava reaberto o debate científico e tornava-se clara a urgência de conhecer melhor a estrutura da falha e de mapear com o maior detalhe possível o relevo do fundo marinho para sul, entre a costa portuguesa e a africana, e para oeste e sudoeste. Com o projecto BIGSETS (que estudou a falha do Marquês de Pombal), uma colaboração dos grupos português e italiano, com o apoio de verbas comunitárias, iniciou-se então uma série de campanhas para desvendar os segredos geossísmicos do fundo oceânico.

Os resultados do BIGSETS mostraram que a dimensão da falha do Marquês de Pombal, apesar da localização perfeita, tem apenas 60 km de extensão. Ou seja, é demasiado pequena para causar sozinha um cataclismo tão brutal como o de 1755. Tinha de haver algo mais.

Graças às campanhas europeias dos últimos anos foi possível encontrar novas falhas (ver gráfico em cima), como a da Ferradura, mais para sul na continuação do Marquês de Pombal, ou as do Banco do Guadalquivir, sob a costa algarvia, cujo movimento, associado ao da falha do Marquês, poderá ter estado na origem do sismo de há 250 anos. Dizer mais do que isto passa ao domínio "da especulação científica", explica Miguel Miranda, que sucedeu a Mendes Victor na liderança do Centro de Geofísica da Universidade Lisboa, em 2004. Mas a especulação, como nota, "também tem o seu papel". Permite lançar hipóteses novas, estudá-las e testá-las. E esse é o ponto em que se está.

Teorias. Depois de uma década de ouro para o conhecimento geotectónico e sismológico do fundo marinho nesta ponta oeste da Europa, há agora várias teorias para explicar o que aconteceu há 250 anos. Nenhuma reúne, no entanto, o consenso de todos. No próprio Centro de Geofísica da UL, os cientistas dividem-se entre duas propostas uma que associa a falha do Marquês de Pombal à da Ferradura, defendida entre outros por Luís Matias, e outra que conjuga a mesma falha do Marquês com outra no Banco do Guadalquivir, que Miguel Miranda e o próprio Nevio Zitellini preferem.

Para o geólogo e investigador António Ribeiro, que tem trabalhado sobre este puzzle com o grupo de geofísica, "hoje é claro que a falha do Marquês de Pombal está ligada ao sismo de 1755". Mas propõe ainda outra ideia a de que o movimento ali gerado há dois séculos e meio se enquadra num processo mais vasto de subducção incipiente, em que a litosfera oceânica está a mergulhar sob a litosfera continental (ver entrevista na página 7).

Existem ainda outras duas teses diferentes. A do investigador francês Marc Andrè Gutscher, que tem trabalhado com o grupo de Lisboa, propõe algo completamente distinto. A sua ideia é que a falha do Marquês não tem nada a ver com o assunto e que é antes uma zona de subducção existente no Golfo de Cadiz (ver gráfico) a verdadeira culpada. Para Gutscher esta zona está activa, ao contrário do pensa uma parte da comunidade científica internacional.

Finalmente, o investigador João Duarte Fonseca do Instituto Superior Técnico avança algo ainda distinto. Para ele, 1755 terá mesmo tido origem em Gorringe, cujo movimento teria "acordado" uma falha no vale inferior do Tejo (cuja existência não é reconhecida por parte da comunidade científica). Os dois movimentos conjugados teriam resultado na catástrofe.

Nenhuma das teses consegue compatibilizar completamente todos os dados disponíveis. Umas explicam melhor o tsunami e pior a destruição em Lisboa, outras é ao contrário. Talvez passem muitos anos até que faça o retrato exacto do que aconteceu no interior da terra nesse dia já longínquo que marcou o País e a Europa.

(os meus agradecimentos ao DN )

1755li-terremoto lisboa.jpg
relatos do terremoto 1755
relatos_terremoto 1755.gif

publicado por Fernando Ramos às 19:33

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