Lisboa antes do Terremoto de 1755
O terramoto de Lisboa aconteceu há 250 anos, foi no dia 1 de Novembro de 1755.
o abalo que se considera ter sido de 8,7 da escala de Ritcher e prolongadíssimo foi de 9 minutose foi decerto muito violento, ficou tudo destruido, Deus nos poupe de outra.
O TERREMOTO DE 1755
Faz hoje, duzentos e cinquenta anos,
que este pequeno país foi arrasado
Foi quase todo pelos canos,
e um povo ficou infernizado
Portugal tremeu, a bom tremer
e ficou completamente destruído
Todos ficaram na miséria, e sem comer
e muito teve de ser reconstruído
O fogo queimou casas, e quase tudo,
e o mar, à cidade muito longe chegou
Nove minutos levaram o país ao fundo,
num tremor de terra, que tudo devastou
Grande desgraça teve Portugal,
que foi engolido pelas altas ondas do mar
Era um desastre de causa natural,
que um povo, a teve de suportar
Foi a um de Novembro, que tudo aconteceu,
onde Portugal inteiro ficou muito sofrido
O povo, esse nunca esmoreceu,
e fez um país novo, e bem reconstruído
Somos um povo forte e valente,
quando a desgraça nos bate à porta
Depois somos muito displicente,
ao pensarmos que ela está morta
E um novo país foi construído,
com o Marquês de Pombal à frente
Foi tudo muito bem sucedido,
que ainda hoje há uma construção decente
O povo ergueu uma obra bela e boa,
e fez-se uma maravilhosa cidade
Todos têm orgulho de Lisboa,
que é uma terra para a posteridade
Somos um país com uma linda história,
E temos de ser, mais amigos de nós
Levamos esta terra à nossa vitória,
em nome dos nossos queridos avós
Não deixemos morrer Portugal,
que tantos construíram com muita dor
É o nosso país, e não há outro igual
vamos todos dar-lhe o nosso profundo amor
de: fernando ramos - www.meuslivros.weblog.com.pt
1.11.2005
Um novo 1755 pode levar 2000 anos
A magnitude do sismo de 1755 já não oferece grande discussão. Os cientistas pensam que ela terá atingido o valor de 8,5 a 8,7 na Escala de Richter
Foram seis longos minutos. Ou nove. Nunca se saberá ao certo. Mas esses momentos, que à escala geológica são nada, mudaram Lisboa e repercutiram-se em toda a Europa, na filosofia, na arte e cultura da época. As réplicas chegaram até hoje, à ciência, que começa agora a desvendar as causas do maior sismo conhecido na Europa. Esta é a história de um mistério ainda sem solução definitiva, mas com algumas explicações provisórias, que não pára de surpreender (e espicaçar) os cientistas.
Analisados os documentos da época à luz da sismologia moderna, é claro para os geofísicos que o terramoto de Lisboa atingiu a magnitude de 8,5 ou 8,7 na Escala de Richter. "É um valor hoje consensual", explica Luís Matias, do Centro de Geofísica da Universidade de Lisboa e um dos investigadores que tem estudado a questão.
A unanimidade termina, porém, quando se chega às causas do sismo. Onde está localizada a sua fonte? O que aconteceu exactamente no fundo do mar, ao largo da costa portuguesa, naquela manhã do Dia de Finados? E se as entranhas da terra voltarem a revolver-se com aquela brutalidade, quando vai isso acontecer? Daqui a 200 ou 300 anos, ou apenas dentro de um ou dois milénios? Por entre todas as dúvidas, um quadro começa a ganhar forma. Uma das hipóteses cada vez mais fortes prende-se com o período de retorno de um cataclismo idêntico na capital portuguesa, que os cientistas julgam agora ser de dois mil anos.
Pensava-se até há pouco que 200 a 300 anos era o intervalo crítico para a ocorrência de um sismo daquela magnitude na região de Lisboa. Era uma visão mais ou menos empírica, apoiada nos registos históricos. "Lisboa foi sempre sujeita periodicamente, com intervalos de 300 anos, aproximadamente, a sismos fortes e há relatos disso", conta Luís Matias. "Mas, relacionar este intervalo de tempo com 1755 é um equívoco", nota o investigador. Por uma razão simples o terramoto de há 250 anos foi único na sua magnitude e a sua causa esteve no fundo do mar, ao largo da costa. Por outro lado, há várias fontes distintas, falhas no continente e também no fundo marinho, que de vez em quando fazem tremer a capital e outras regiões no território, como o Algarve, mas sem se atingirem magnitudes drásticas como a de há dois séculos e meio.
Descoberta. A melhor hipótese de que os cientistas dispunham até há pouco para localizar a possível da fonte do terramoto de 1755 era o Banco de Gorringe, a estrutura submarina mais "vistosa" a sudoeste da costa algarvia. Subindo quase a pique, de uma profundidade de cinco quilómetros até 30 metros abaixo da superfície do mar, aquele estrutura geológica, a cerca de 200 quilómetros a sudoeste do Cabo de S. Vicente (a 300 de Lisboa), era a candidata mais óbvia.
Apesar disso, nem todos os cientistas estavam convencidos da identidade do "culpado". E tinham um bom argumento a intensidade do sismo e a destruição em Lisboa não eram compatíveis com a enorme distância a que está o Banco de Gorringe da capital portuguesa. Os estudos da última década deram-lhes razão. Nos anos 90 do século XX, alguns acontecimentos relançaram a discussão, que está mais vigorosa do que nunca. A conferência internacional "250th Aniversary of de 1755 Earthquake" que a partir de hoje, e até sexta-feira, traz ao Centro Cultural de Belém dezenas de investigadores de vários países, e de diferentes especialidades - da tectónica à sismologia, engenharia sísmica e planeamento urbano - será disso montra única. E, quem sabe, até de algumas novidades.
Mas o que sucedeu no início da década passada que permitiu pensar a causa de 1755 de outra forma?
Um dos ovos de Colombo foi o estudo do tsunami gerado pelo terramoto, que nunca se tinha feito. Havia trabalhos no Japão sobre modelização de tsunamis ocorridos no século XIX, mas nunca se tinha tentado recuar tanto no passado, para um estudo semelhante.
Por sugestão de Mendes Victor, que durante anos liderou o grupo de geofísica da Universidade de Lisboa, a investigadora Maria Ana Baptista tomou nas mãos essa complexa tarefa (ver texto na pág. 4). E o resultado valeu o esforço.
Feitas as contas ao tsunami de 1755, simuladas as ondas, fluxos e refluxos e tempos de chegada à costa, percebia-se que a fonte do sismo dificilmente poderia ser Gorringe. Esse local devia estar mais próximo da costa portuguesa, a cerca de uma centena de quilómetros a sudoeste do Cabo de S. Vicente. Com esse estudo, publicado em 1996, Maria Ana Baptista colocou a discussão científica "num novo patamar", sublinha Luís Matias.
Longe daqui, um investigador italiano da Universidade de Bolonha, Nevio Zitellini, envolvido noutra pesquisa para determinar a localização exacta da zona de convergência entre as placas euroasiática e africana, realizou entretanto, em 1992, um perfil sísmico numa região situada a essa distância do Cabo de S.Vicente. E foi aí que deu com uma escarpa no fundo do oceano (uma falha activa com ruptura à superfície do leito marinho), com sinais de movimento recente à escala geológica algo como 200 anos. Absorvido no seu estudo sistemático, Zitellini levou vários anos a publicar a descoberta. Mas um dia, corria o ano de 1998, agarrou nos seus papéis e decidiu procurar o grupo de geofísica de Mendes Victor. Tinha lido o estudo de Maria Ana Baptista e queria mostrar a feliz coincidência entre a sua descoberta e a localização da fonte do terramoto sugerida pela análise do tsunami.
Por sugestão do italiano, aquela estrutura submarina acabou por ganhar o nome de Falha do Marquês de Pombal e, em 1999, Zitellini publicou a descoberta, propondo-a como origem provável do terramoto. Estava reaberto o debate científico e tornava-se clara a urgência de conhecer melhor a estrutura da falha e de mapear com o maior detalhe possível o relevo do fundo marinho para sul, entre a costa portuguesa e a africana, e para oeste e sudoeste. Com o projecto BIGSETS (que estudou a falha do Marquês de Pombal), uma colaboração dos grupos português e italiano, com o apoio de verbas comunitárias, iniciou-se então uma série de campanhas para desvendar os segredos geossísmicos do fundo oceânico.
Os resultados do BIGSETS mostraram que a dimensão da falha do Marquês de Pombal, apesar da localização perfeita, tem apenas 60 km de extensão. Ou seja, é demasiado pequena para causar sozinha um cataclismo tão brutal como o de 1755. Tinha de haver algo mais.
Graças às campanhas europeias dos últimos anos foi possível encontrar novas falhas (ver gráfico em cima), como a da Ferradura, mais para sul na continuação do Marquês de Pombal, ou as do Banco do Guadalquivir, sob a costa algarvia, cujo movimento, associado ao da falha do Marquês, poderá ter estado na origem do sismo de há 250 anos. Dizer mais do que isto passa ao domínio "da especulação científica", explica Miguel Miranda, que sucedeu a Mendes Victor na liderança do Centro de Geofísica da Universidade Lisboa, em 2004. Mas a especulação, como nota, "também tem o seu papel". Permite lançar hipóteses novas, estudá-las e testá-las. E esse é o ponto em que se está.
Teorias. Depois de uma década de ouro para o conhecimento geotectónico e sismológico do fundo marinho nesta ponta oeste da Europa, há agora várias teorias para explicar o que aconteceu há 250 anos. Nenhuma reúne, no entanto, o consenso de todos. No próprio Centro de Geofísica da UL, os cientistas dividem-se entre duas propostas uma que associa a falha do Marquês de Pombal à da Ferradura, defendida entre outros por Luís Matias, e outra que conjuga a mesma falha do Marquês com outra no Banco do Guadalquivir, que Miguel Miranda e o próprio Nevio Zitellini preferem.
Para o geólogo e investigador António Ribeiro, que tem trabalhado sobre este puzzle com o grupo de geofísica, "hoje é claro que a falha do Marquês de Pombal está ligada ao sismo de 1755". Mas propõe ainda outra ideia a de que o movimento ali gerado há dois séculos e meio se enquadra num processo mais vasto de subducção incipiente, em que a litosfera oceânica está a mergulhar sob a litosfera continental (ver entrevista na página 7).
Existem ainda outras duas teses diferentes. A do investigador francês Marc Andrè Gutscher, que tem trabalhado com o grupo de Lisboa, propõe algo completamente distinto. A sua ideia é que a falha do Marquês não tem nada a ver com o assunto e que é antes uma zona de subducção existente no Golfo de Cadiz (ver gráfico) a verdadeira culpada. Para Gutscher esta zona está activa, ao contrário do pensa uma parte da comunidade científica internacional.
Finalmente, o investigador João Duarte Fonseca do Instituto Superior Técnico avança algo ainda distinto. Para ele, 1755 terá mesmo tido origem em Gorringe, cujo movimento teria "acordado" uma falha no vale inferior do Tejo (cuja existência não é reconhecida por parte da comunidade científica). Os dois movimentos conjugados teriam resultado na catástrofe.
Nenhuma das teses consegue compatibilizar completamente todos os dados disponíveis. Umas explicam melhor o tsunami e pior a destruição em Lisboa, outras é ao contrário. Talvez passem muitos anos até que faça o retrato exacto do que aconteceu no interior da terra nesse dia já longínquo que marcou o País e a Europa.
(os meus agradecimentos ao DN )
relatos do terremoto 1755